terça-feira, 7 de abril de 2015

Romance de Aventura

Um mergulho no mais gigantesco abismo que se pode imaginar. Essa foi a sensação de Eugênio
logo depois de comandar com o controle o seu próprio cibertransporte. Uma explosão aguda feriu-lhe os ouvidos e um zumbido insuportável tomou conta de seu cérebro.
Ele foi lançado de cabeça no centro de um redemoinho espiralado sem conseguir controlar seu
corpo, jogado livremente de um lado para o outro numa queda sem fim. Na verdade, nem mesmo
sabia se ainda tinha corpo.
“Estou morrendo”, pensou ele, assustado. “A experiência fracassou.”
Quis se agarrar a alguma coisa numa tentativa de parar de cair, mas só o nada estava ao alcance da
mão. Tentou gritar, mas não conseguiu; a voz saía como um fiapo em meio ao barulho ensurdecedor.
Os olhos se ofuscavam com a luz brilhante e multicolorida, braços e pernas sacudiam descontrolados enquanto o garoto despencava no vazio.
Depois de um tempo interminável, tudo parou de repente. Deitado de costas no chão, Eugênio não
via mais o redemoinho em forma de espiral nem as luzes cheias de cores. O zumbido foi diminuindo
aos poucos e um silêncio doído tomou conta do lugar.
O garoto bateu no peito para se certificar de estar mesmo vivo. Notou, aliviado, que o controle
do cibertransporte estava firmemente seguro entre os dedos e que o capacete continuava enfiado na
cabeça. Apesar do susto, sentia-se leve, quase capaz de sair flutuando. Foi quando viu à sua frente o
que parecia ser a entrada de um túnel.
Levantou devagar e caminhou até lá. Era mesmo um túnel escuro e comprido, tão comprido e tão
curvo que não dava para avistar a saída. Eugênio viu apenas uma luz distante e se sentiu irresistivelmente atraído por ela. Então, entrou ali com passos lentos e andou em sua direção. 
 
(Laura Bergallo, A criatura. Edições SM, 2005, pp. 100-101)

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