segunda-feira, 6 de maio de 2013

O Grande Encontro


 
Era uma vez um Autor com uma vaga ideia para uma nova história. E como nessa história tinha vaga de verdade para um grande Personagem, pensou em começar sua busca colocando um anúncio no jornal.

"Procura-se um Personagem disposto a viver aventuras eletrizantes. Não é necessário ter experiência no tema, mas algumas características serão especialmente consideradas: um certo preparo físico, raciocínio rápido e personalidade carismática."
O primeiro candidato a se apresentar foi logo dizendo:
- Participei de passagens importantes de muitos livros famosos, imortalizados por personagens estrelados.
- Ah, parabéns! O senhor tem razão. Os grandes personagens não envelhecem. Mas, se entendi bem, o senhor nunca foi o protagonista desses enredos, certo? Enfim... É uma pena, mas um coadjuvante de idade avançada não é o que busco. Desculpe!
Dois dias e muitas páginas amassadas depois, o Autor recebe outro candidato - um tipo muito sincero, mas bastante imaturo.

  -Já passei por muitas imaginações, mas...

 - Mas?

  -Nunca cheguei ao papel...

- Ah...

- Tenho muito potencial, mas...

- Mas?

- Preciso de alguém que acredite em mim, que me decifre e me revele com todas as letras, entende?

- Você é muito interessante. Mas...

Na semana seguinte, com a cabeça embaralhada e ainda sem um herói à vista, o Autor começa a pensar em outras possibilidades e, repentinamente, tem uma grande ideia: e se o narrador transformasse a própria aventura em Personagem? Animado, ele já ia colocar o texto em ação quando o telefone toca.

- Bom dia. Posso falar com o Autor?

- E o senhor é...?

- O Personagem.

- Ah, claro, o anúncio...

- Exato, o anúncio. Muito bem escrito, por sinal.

- ...?

- Quantos livros o senhor publicou?

- ... !?!

- Alô? Alô, o senhor está na linha?

- Sim... Claro, estou ouvindo... Continue, por favor!

- Desculpe! Espero que não me leve a mal, mas preciso saber um pouco mais sobre o seu estilo, como é o seu processo criativo, quais gêneros o senhor domina, se tem livros premiados... É que não me encaixo com naturalidade em qualquer texto. Tenho que sentir alguma consistência literária, entende?

O Autor experimentou vários estados de espírito. No início, ficou atônito. Mais que isso, catatônico! Depois, a palavra certa seria "irritado". Mas, pouco a pouco, foi se sentindo, como dizer?, impressionado! Pois, à medida em que respondia às perguntas do Personagem, foi se surpreendendo mais e mais com suas próprias palavras.

No dia seguinte, conversaram de novo. E no outro, outra vez.

Trocaram ideias durante tanto tempo que acabaram se tornando grandes amigos. Anos depois, eram tão íntimos que um logo adivinhava o que o outro tinha acabado de pensar e, juntos, inventaram histórias fabulosas.

Silvana Tavano, autora deste conto, é jornalista, autora de livros infatis e juvenis e escreve no blog Diários da Bicicleta

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