"Vez por outra circulava a notícia apressada de que desaparecera
aquela crianã da rua da Medalha, ou a outra da rua da Tesoura, da
estrada do Carro ou da rua da Viração, da rua da Glória ou do Jaguaribe —
e era de notar o espanto geral que a novidade despertava entre a
gurizada atenta na marcha desses acontecimentos tão desagradáveis."
(Ademar Vidal. Lendas e superstições)
(Ademar Vidal. Lendas e superstições)
Ele costuma sair à noite ou ao fim da tarde, na hora do crepúsculo,
aproveitando o horário de saída das escolas. Seu aspecto pode variar de
região para região. Algumas vezes é velho, sujo, sofre de hanseníase e
tem o corpo coberto de chagas. Pode, também, ser alto, magro, pálido e
com a barba por fazer. Às vezes, carrega um saco. Procura por crianças,
atraindo-as com o intuito de raptá-las, extraindo-lhes, a seguir, o
fígado.
Segundo a crença popular, o sangue é produzido no fígado. Quando este
não funciona bem, o sangue apodrece, causando a lepra. A cura estaria
no consumo do órgão sadio. Mas somente o fígado infantil teria pureza e
força suficientes para aliviar o sofrimento dos hansenianos. E sempre
haveria alguém disposto a pagar qualquer preço por tão poderoso e raro
lenitivo.
É mito que ocorre em todo o Brasil, convergindo para outras figuras
do ciclo do pavor infantil, como o lobisomem, o negro velho e o homem do
saco. Segundo a versão registrada por Ademar Vidal, referente à
Paraíba, a fim de não cometer injustiças, o papa-figo restringia sua
caça apenas aos meninos mal-comportados, desobedientes, teimosos ou
chorões.
Fonte: http://www.jangadabrasil.com.br/revista/galeria/ca80007f.asp
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