quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
CONTO
A moça Tecelã
(Texto integral de Marina Colasanti)
"Acordava ainda no escuro, como se
ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para
começar o dia. Delicado traço cor da
luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade
da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo
hora a hora, em longo tapete que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam
as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão
mais felpudo. Em breve, na penumbra
trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava
sobre o tecido. Leve, a chuva vinha
cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio
brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus
belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim,
jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear
para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com
cuidado de escamas. E eis que o peixe
estava na mesa, pronto para ser comido.
Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de
escuridão, dormia tranquila. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o
tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom
ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca
conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam
companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto
barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.
Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos
sapatos, quando bateram à porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o
chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a
moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua
felicidade. E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em
filhos, logo os esqueceu. Porque tinha
descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que
ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse
para a mulher. E parecia justo, agora
que eram dois. Exigiu que escolhesse as
mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a
casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu
suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? —
perguntou. Sem querer resposta
imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a
moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía
lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não
tinha tempo para arrematar o dia. Tecia
e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da
lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu
para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a
porta à chave, advertiu:
— Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
— Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos
do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de
criados. Tecer era tudo o que fazia.
Tecer era tudo o que queria fazer. E
tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o
palácio com todos os seus tesouros. E
pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou
anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências.
E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao
tear.
Desta vez não precisou escolher linha
nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o
outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as
estrebarias, os jardins. Depois desteceu
os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na
sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. A noite acabava quando o marido estranhando a
cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se
levantar. Ela já desfazia o desenho
escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o
peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a
moça escolheu uma linha clara. E foi
passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na
linha do horizonte."
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Conto Maravilhoso
Aladim e a Lâmpada Maravilhosa
Aladim caminhava por uma viela estreita e escura quando um cálido brilho no chão chamou sua atenção.
Aproximando-se, viu que era uma lâmpada.
Estava a olhá-la por vários ângulos quando viu sob a poeira algo que parecia ser algum escrito.
Passou a mão no local e subitamente uma grande luz branca começou a surgir do bico da lâmpada.
Aladim assustou-se e deixou cair a lâmpada, enquanto uma grande forma humana masculina ia se formando no espaço antes vazio.
Ao invés de terminar em pés, suas pernas se afunilavam na direção do bico da lâmpada.
A forma algo fantasmagórica flutuava envolta por uma aura oscilante.
Antes que Aladim pudesse sequer avaliar a situação, a forma disse com voz grave e firme :
— Sou o Gênio da Lâmpada, e você tem direito a um desejo.
Recobrando-se, Aladim compreendeu logo a situação e, sem questionar porque era um só desejo, já ia dizendo algo quando o Gênio continuou :
— Mas há três condições.
Três condições ? Onde já se viu gênio ter condições para atender desejos ?
Aladim continuou ouvindo.
— Primeira condição : o que quer que você deseje, deve se realizar antes em sua mente.
Aladim já ia perguntar o que isto queria dizer, mas o Gênio não deixou :
— Segunda condição : o que quer que você deseje, deve desejar integralmente, sem conflitos.
Desta vez Aladim esperou.
— Terceira condição : o que quer você deseje, deve ser capaz de continuar desejando para continuar a ter.
Aladim, ansioso por dizer logo o que queria, fez o primeiro desejo assim que pôde falar :
— Eu quero um milhão de dólares !
— Já se imaginou tendo um milhão de dólares ?
Aladim agora entendera o que queria dizer a primeira condição.
Na mesma hora vieram à sua mente imagens de si mesmo nadando em dinheiro, comprando muitas coisas, Mas ao se imaginar, questionou-se se teria que compartilhar parte do dinheiro com pobres ou outras pessoas.
Aí entendeu a segunda condição, e percebeu que seu desejo não poderia ser atendido.
Aladim então buscou então algum desejo que poderia ter sem conflitos.
Pensou, pensou, buscou e por fim disse ao Gênio :
— Senhor Gênio, eu quero uma companheira bela, sábia e carinhosa.
Aladim tinha se imaginado com uma mulher assim e sentiu que aquilo ele queria de verdade, sem qualquer conflito.
O Gênio fez um gesto e de sua mão saiu um feixe de luz esverdeada na direção do coração de Aladim.
Este teve uma alucinação, como um sonho, de estar vivendo com uma mulher bela, sábia e carinhosa por vários anos.
E viu-se então enjoado, não a queria mais depois de tanto tempo.
Voltando à realidade, Aladim lembrou-se das cenas e viu que aquele desejo também não poderia ser atendido.
Entristeceu-se, pensando que jamais poderia querer e continuar querendo algo sem conflitos.
Algo aparentemente aconteceu.
O rosto de Aladim iluminou-se, e ele se empertigou todo para dizer ao
Gênio que já sabia o que queria.
— Sim? O Gênio foi lacônico. Aladim completou, em um só fôlego :
— Eu desejo que você me dê a capacidade de realizar os desejos que eu imaginar em minha mente sem conflitos !
Final 1
O Gênio estendeu uma das mãos e, projetando um jato de luz multicolorida em Aladim, transformou-o em um Gênio da Lâmpada.
Final 2
Algo inesperado aconteceu : o Gênio foi se soltando da lâmpada, formaram-se duas pernas completas no seu corpo e ele desceu devagar até finalmente apoiar-se no chão, em frente a Aladim, que o olhava com um ar interrogador.
— Obrigado, disse o Gênio, sorridente.
Estava escrito que eu seria libertado quando alguém pedisse algo que já tivesse !
Conto Maravilhoso
ALI
BABÁ E OS QUARENTA LADRÕES
Há muito, muito tempo, numa cidade lá
para os lados do Oriente, vivia Ali Babá, que ganhava a vida
comprando e vendendo coisas nas aldeias próximas à sua.
Uma bela tarde, ao regressar a casa, viu uma longa caravana de
quarenta homens carregados com grandes caixas, que as puseram no
chão ao chegarem junto a uma rocha. Então, espantadíssimo, Ali
Babá viu o chefe aproximar-se da parede rochosa e gritar: - Abre-te Sésamo! Como que por milagre abriu-se uma grande fenda na rocha e apareceu uma enorme gruta, no interior da qual os homens depositaram as caixas e saíram. - Fecha-te Sésamo!- gritou o chefe. A parede voltou a fechar-se e foram-se embora. Quando Ali Babá viu que os homens já iam longe, correu para a grande rocha e gritou: - Abre-te Sésamo! Entrou na gruta e viu, espantado, que ela albergava um precioso tesouro, proveniente dos roubos que os homens vinham praticando nas cidades da região. Então carregou o que pode num saco e voltou para casa. No dia seguinte, pedindo segredo, contou tudo ao seu irmão mais velho Kasim. Logo que a noite caiu Kasim, sem dizer nada a ninguém, colocou os arreios e alguns sacos nas mulas e dirigiu-se à gruta, sonhando durante todo o percurso que era muito, mas mesmo muito rico. Porém, quando tinha os sacos quase todos cheios, os ladrões regressaram para guardar mais coisas roubadas e, ao verem-no, pois não havia como esconder-se, condenaram-no a ficar fechado na gruta. Preocupado com o desaparecimento do irmão, e lembrando-se da conversa que tivera, Ali Babá decidiu ir procurá-lo à gruta. Logo que entrou viu-o atado de pés e mãos, jogado a um canto. Desamarrou-o e foram-se embora correndo, por entre juras de nunca mais ali voltarem. Porém, quando os ladrões regressaram à gruta e viram que o prisioneiro se tinha evadido, logo pensaram numa maneira de o apanharem e a quem o ajudou. - Far-me-ei passar por mercador e irei bater de porta em porta em todas as cidades em redor. Porei um de vós em cada vasilha e encherei uma com azeite. - decidiu o chefe dos ladrões. E lá foram de cidade em cidade, consoante o plano que tinha forjado, até que chegou a casa de Kasim e o reconheceu. De imediato lhe pediu alojamento, ao que este anuiu, sem desconfiar de nada. Mas durante o jantar a criada Frahazada, ao passar junto das vasilhas, ouviu os ladrões a cochicharem: - Estejam preparados, aproxima-se o momento de os agarrarmos! Frahazada correu a contar a Ali Babá a estranha coisa que tinha ouvido. Resolveram então ferver um alguidar de azeite e despejá-lo em cada pote aonde se escondiam os malvados ladrões. Estes fugiram aterrorizados, com excepção do chefe, que foi preso e entregue aos guardas do rei. Kasim, agradecido, comprometeu-se a dar metade da sua fortuna ao irmão. - Agradeço-te, mas apenas quero 1/4 para mim. O restante pertence a Frahazada, com quem me vou casar! |
Conto Maravilhoso
O Gato de
Botas
Um gato travesso
com toda a gataria calçou bota e foi ao rei levar presentes certo dia. Seu dono
era bem pobre.
Só tinha um belo
olhar e um belo porte.
Mas o Gato de
Botas transformou sua vida e sua sorte.
Há muito tempo,
um velho moleiro, que tinha trabalhado a vida inteira, chamou seus três filhos
e distribuiu entre eles tudo o que possuía.
Entregou o
moinho ao mais velho, deu o burro para o segundo e para o terceiro, que era o
caçula, sobrou só o gato.
Quando os três
filhos ficaram sozinhos, o mais velho combinou viver e trabalhar junto com o
segundo irmão.
Ele podia fazer
farinha no moinho e o outro iria vendê-la na cidade, com o burro.
Mas
o caçula, que só tinha um gato, era melhor que fosse embora com ele, pois para
nada servia.
O caçula ficou
muito triste, mas concordou:
- Vocês tem
razão. O mais que posso fazer com um gato é comer uns bifes e usar a pele para
um gorro.
Depois fez sua
trouxa e pôs-se a caminho, levando o gato. Não sabia para onde ir. Andou
durante muito tempo . . . Quando se cansou, sentou-se num tronco caído, para
pensar.
- Meu amo!
Poderei ser-lhe mais útil vivo que morto. Arranje-me um par de botas para andar
no bosque e um saco. Você vai ver do que eu sou capaz.
O rapaz
estranhou o pedido, mas arranjou as botas e o saco para o gato.
- Quero só ver o
que um gato pode fazer com isto - pensou.
O
gato assim que recebeu o que pedira, saiu depressa, cantando alegremente.
Enquanto
caminhava em direção ao bosque, o gato ia fazendo seus planos. Seria difícil
imaginar um gato mais esperto do que aquele.
Seu dono nunca
poderia adivinhar o que ele pretendia fazer . . .
Chegando
ao bosque, o gato pôs no chão o saco bem aberto e dentro jogou uns pedacinhos
de pão.
Depois deitou-se
e ali perto, fechou os olhos e fingiu de morto. Dali a pouco uma lebre se
aproximou e foi comer o pão. Entrou no saco e . . . zás! Num piscar de olho o
gato puxou os cordões, fechando o saco, colocou-o ao ombro e correu ao palácio
do rei.
- Majestade,
venho trazer-vos esta lebre, que meu amo e senhor, o Marquês de Carabá, caçou
especialmente para vós.
O rei agradeceu
o presente e mandou o cozinheiro preparar a lebre para o jantar.
Nos dias que se
seguiram, o gato tornou a levar ao rei vários presentes do Marquês de Carabá:
lebres, codornas, coelhos, faisões.
O gato chegava
ao palácio e fazendo uma grande reverência, entregava ao rei a caça do dia:
- Majestade, eis
aqui duas perdizes, que vos envia meu amo, o marquês de Carabá!
O rei ficava
encantado. Estava cada vez mais curioso para conhecer o Marquês de Carabá, que
o presenteava tanto.
Os próprios
cortesãos perguntavam uns aos outros quem era o tal marquês.
E o rei pensava:
- Se é tão
bonito quanto é bom caçador, se é tão rico como esplêndido senhor, da minha
filha eu lhe darei a mão e o amor!
Um dia o gato
soube que o rei ia dar um passeio de carruagem com a filha.
Levou o amo até
um lago que ficava perto da estrada por onde o rei deveria passar e quando a
carruagem se aproximava, mandou o dono despir-se e entrar na água.
- Mas, que é
isso, gato? Você perdeu o juízo?
- Depressa, meu
amo, depressa! Faça o que lhe digo e não se arrependerá!
O rapaz não teve
outro jeito senão obedecer. Tirou a roupa e pulou para dentro da água.
A carruagem do
rei já estava perto e o gato começou a gritar:
- Socorro! Meu
amo está se afogando! Socorro, Majestade!
O
rei ordenou que parasse e que seus guardas tirassem o marquês de dentro do rio.
O gato agradeceu ao rei e disse:
- O pobre
marquês . . . foi atirado ao rio por dois bandidos . . . que lhe roubaram.
O rei então a um
de seus servos que corresse ao palácio e trouxesse o traje mais bonito de seu
guardaroupa.
O furto da roupa
era mais uma invenção do gato. É claro que o Marquês de Carabá não poderia
apresentar-se vestido com as roupas pobres de um moleiro . . .
Quando o servo
chegou com o belo traje do rei, o rapaz vestiu-se e aproximou-se da carruagem.
Inclinou-se numa reverência e agradeceu ao rei por tê-lo salvo.
A princesa pediu
ao pai que convidasse o Marquês de Carabá para entrar na carruagem e
continuar o passeio com eles.
O rapaz aceitou
o convite e o rei vendo que a filha se interessava pelo moço, começou a pensar:
- Um marquês
desconhecido! Preciso saber quem ele é e também se é rico.
Enquanto isso o
gato correra na frente e já estava longe.
Ao encontrar
camponeses trabalhando a terra o gato ordenou em voz grossa:
- Se alguém
perguntar de quem são estas terras, digam que pertencem ao Marquês de Carabá.
Se não responderem assim, eu os picarei em pedacinhos e farei salsicha de
vocês!
Daí a pouco chegou
a carruagem do rei. Os camponeses o saudaram e ele perguntou de quem eram
aquelas terras.
- São do Marquês
de Carabá!
O rei olhou
admirado para o rapaz, que disse modestamente:
- É apenas um
campo que quase não dá lucro . . . não dá nem para comprar os cartuchos para
minha espingarda!
O rei cada vez
mais admirado com a riqueza do marquês e não parava de cumprimentá-lo.
O gato
entretanto continuara a correr e chegara a um castelo. Com a maior caradepau,
bateu à porta:
- Quem é -
perguntou o guarda.
- Pode dizer-me
de quem é este castelo?
- É de um
terrível feiticeiro! - respondeu o guarda. - É melhor você ir andando, porque
hoje ele espera hóspedes para um banquete.
O gato insistiu:
- Não posso
passar por aqui sem parar para ver seu patrão. Pode anunciar-me: sou o gato do
Marquês de Carabá e quero cumprimentá-lo.
- Um gato! Que
visita estranha! - disse o feiticeiro, que era muito vaidoso. E mandou-o
entrar, pensando que o gato viesse prestar-lhe homenagens.
Aproxime-se!
- ordenou o feiticeiro ao gato. - Vejamos se consegue me agradar.
- Que bela barba
o senhor tem! - exclamou o gato. - E que barriga tão gorda!
- Bravo, gato!
Você sabe fazer elogios. E agora, o que tem para me dizer?
- Ouvi falar que
. . . mas não é possível . . . não acredito . . . que o senhor é capaz de se
transformar num leão!
- Oh! As más
línguas . . . Mas, se o senhor me der uma prova de seu poder . . .
- Claro. Posso
me transformar no que quiser - respondeu o feiticeiro.
Um . . . dois .
. . três! O feiticeiro se transformou num enorme leão. O gato teve tanto medo,
que até suas botas tremeram. Mas acalmou-se e disse:
- Muito bem,
muito bem! Mas deve ser fácil virar leão. O senhor é grande e o leão também é .
. . Não vejo dificuldade nisso!
- Posso virar
qualquer coisa, já disse! Até uma coisinha bem pequena!
- Não é possível
- retrucou o gato. - Ainda mais porque agora o senhor já deve estar cansado!
- Sou um
feiticeiro e os feiticeiros não se cansam. Pode escolher qualquer bicho e me
transformarei nele.
O gato que era
muito esperto, pediu ao feiticeiro que virasse um ratinho bem pequeno.
- Isso é fácil -
disse o feiticeiro. Fique olhando: um, dois e três! O feiticeiro, grande como
era, virou um ratinho.
O gato,
não perdeu tempo: num instante pegou o ratinho e comeu. Livre do feiticeiro, o
gato percorreu o castelo, dizendo:
- O feiticeiro
morreu. O novo dono do castelo é o Marquês de Carabá. Guardas! Servos!
Cozinheiro9s! Preparem-se para receber o Marquês de Carabá e Sua Majestade o
rei, em pessoa!
- O feiticeiro
morreu. O novo dono do castelo é o Marquês de Carabá. Guardas! Servos!
Cozinheiro9s! Preparem-se para receber o Marquês de Carabá e Sua Majestade o
rei, em pessoa!
O banquete que o
feiticeiro ia oferecer aos amigos, será servido ao rei, - continuou o gato.
- Depressa! A
carruagem real se aproxima!
De fato,
exatamente naquele momento a carruagem do rei passava pela frente do castelo. O
gato correu à estrada e disse:
- Sua Majestade
seja bem vindo ao castelo do Marquês de Carabá!
- Oh! Meu caro
marquês, não sabia que o senhor possuía também um castelo!
- Para dizer a
verdade, nem eu! - respondeu o rapaz.
- Tem um lindo
castelo! - disse-lhe o rei - bem construído e belo!
O moço em
confusão, pensava quieto:
- Isso é coisa
do gato, por certo!
- É mais lindo
que o nosso - disse a princesa!
- Não é meu,
doce princesa! Sou um pobre sonhador. Tenho castelos nas nuvens. Mas estes não
tem valor.
- Ai, ai, ai, ai
. . . disse o rei! Um disse que é do Marquês, outro diz que não é! Ou me falam
a verdade ou mando enforcar os dois, antes do cair da tarde.
- Realmente
senhor, eu menti - disse o gato - peço perdão majestade. Eu juro que nesse
instante, contarei toda a verdade.
- Há muitos e
muitos anos atrás, o gigante roubou todas as terras dos avós desse rapaz. Mas
graças a minha astúcia, posso-lhe afirmar nesse instante.
Tudo agora é do
meu amo. Pois já comi o gigante!
- Viva! Então,
Gato de Botas, condecorado serás, porque livraste o meu reino do gigante
feiticeiro - disse o rei - Quanto a ti, belo mancebo, pela sua honestidade, a
partir desse momento, será marquês de verdade.
- Para
alegria de todos, dou a mão de minha filha - completou o rei!
E assim termina
a história desse gato que foi de fato o mais esperto que houve.
Gato de Botas
que levou sua história a tão bom fim.
Feliz de quem tiver
um gato assim!
Charles Perrault
Conto maravilhoso
JOÃO
E O PÉ DE FEIJÃO
Há
muitos e muitos anos existiu uma viúva que tinha um filho chamado
João.
João
e a mãe eram muito pobres e, para se manterem, contavam apenas com uma
vaca, cujo leite vendiam na cidade.
Um dia,
porém, a vaca parou subitamente de dar leite, e a pobre mulher,
tendo perdido assim a fonte de seu sustento, ficou preocupada e sem saber
o que fazer.
João, de sua parte,
começou a procurar um emprego, com o qual pudesse ajudar a mãe.
Mas os dias foram passando sem que ele arranjasse coisa alguma para fazer. Assim,
a única solução que encontraram foi vender a vaca, pois o
dinheiro daria pelo menos para viverem por algum tempo.
João
logo se ofereceu para ir vender o animal na cidade, mas a mãe, achando
que ele não saberia negociar, a princípio não consentiu.
Entretanto, porque ela própria poderia sair de casa naquele dia,
não teve outro remédio senão concordar com a idéia.
Amarrou então uma corda no pescoço da vaca, para que
João não a perdesse e, depois de dar muitos conselhos ao filho,
deixou-o partir.
E lá
se foi João, com destino à cidade.
Quando estava no meio do caminho, encontrou
um vendedor ambulante que o cumprimentou muito simpático e
perguntou-lhe aonde estava indo com a vaca.
Assim que João contou que estava indo vendê-la
na cidade, o homem tirou do bolso um punhado de feijões, muito bonitos e
de cores e formatos variados, e mostrou-os ao menino, dizendo que
eles eram encantados.
João ficou deslumbrado com a beleza dos grãos
e, ao ouvir as palavras do vendedor, seus olhos brilharam de alegria. Morrendo
de vontade de possuir os feijões encantados, perguntou ao homem se ele
não gostaria de trocá-los pela vaca.
O vendedor concordou prontamente com a troca. E, horas
depois, João chegava em casa muito satisfeito, achando que havia feito
um excelente negócio.
A mãe o recebeu muito contente, mas, quando o menino
lhe mostrou o que havia conseguido em troca do animal, ficou furiosa e disse:
— Como, meu filho?! Você teve
coragem
de trocar a única coisa que possuíamos por
uma porcaria duns grãos de feijão?
de trocar a única coisa que possuíamos por
uma porcaria duns grãos de feijão?
E, quanto mais pensava na situação difícil
em que ela e o filho estavam agora, mais nervosa ficava. Até que, num
acesso de raiva, jogou os feijões pela janela, gritando:
— Veja, seu tolo! Veja para o que ser
vem seus grãos encantados: para jogar fora!
vem seus grãos encantados: para jogar fora!
O pobre menino, desconsolado, ficou olhando para a
mãe sem nada conseguir dizer. E, como castigo, naquela noite foi
mandado para a cama sem jantar.
Na manhã seguinte, ao acordar,
João ainda estava muito triste e não conseguia esquecer o
acontecimento do dia anterior. Estava deitado, tentando encontrar um jeito
de remediar o que havia feito, quando notou que havia alguma coisa impedindo o
sol de entrar pela janela. Levantou-se para espiar o que era e, espantado,
descobriu que os grãos de feijão não só haviam
brotado durante a noite, como também haviam crescido assustadoramente,
transformando-se numa planta enorme, que subia até o céu.
Admirado e feliz, o menino correu até o
quintal e, sem pensar duas vezes, começou a subir pelo pé de
feijão. Subiu, subiu e subiu; atravessou muitas camadas de nuvens macias
como flocos de algodão e, por fim, descobriu que a planta terminava
num estranho país, onde tudo parecia deserto.
Como queria saber onde estava, João resolveu andar
para ver se encontrava alguém por ali. Mas o lugar parecia completamente
desabitado, pois, mesmo andando horas em seguida, não viu
ninguém pelo caminho. Porém, quando já estava
escurecendo e o seu estômago até doía de fome, João
avistou um enorme castelo para onde se dirigiu. Encontrou na porta uma
mulher que pareceu muito assustada em vê-lo ali.
— O que você está
fazendo aqui, menino? — disse ela. — Não sabe que esse
castelo pertence
ao meu marido, um gigante muito mau, devorador de carne humana?
Ao ouvir isso, João sentiu as pernas
bambearem de medo. Mas, como a mulher lhe dissesse que o gigante estava fora,
caçando, e também como a fome e o cansaço não o deixassem
andar mais, pediu a ela que o abrigasse e escondesse até o dia
seguinte.
Embora fosse casada com um homem tão mau, a esposa do
gigante era uma pessoa muito bondosa. Assim, ficou com muita pena do menino e
levou-o para dentro do castelo, onde serviu-lhe uma mesa coberta de coisas deliciosas.
João, que estava morto de fome, comeu
tudo com tanto apetite e gosto que logo se esqueceu do perigo que estava
correndo. De repente, porém, ouviu-se um grande barulho na porta,
seguido de passos tão pesados que o castelo inteiro estremeceu.
— Oh, meu Deus! — disse a mulher, tremendo
como vara verde. — É o gigante, menino ! Ele não pode
encontrar você aqui senão vai devorar você e a mim
também!
Ao
vê-la tão assustada, João ficou paralisado de medo.
Mas a mulher o puxou rapidamente pela
mão, e mal teve tempo de escondê-lo dentro do forno,
antes que o gigante entrasse na cozinha, gritando com sua voz de
trovão:
— Mulher! Mulher, estou sentindo cheiro de
carne humana!
Um, dois e
três,
diga-me de uma vez:
onde
está esse abelhudo?
Vou
comê-lo com ossos e tudo!
Mais que
depressa, a mulher explicou que o cheiro de carne era dos franguinhos que ela
havia matado para o jantar.
João, que estava espiando por uma
frestinha do forno, ficou apavorado só de pensar no que aconteceria se o
gigante o encontrasse. Mas a bondosa mulher, que sabia que o marido era
muito comilão, apressou-se em servir a comida, antes que ele
começasse a procurar por todos os cantos da casa até encontrar
o pobre menino.
O
gigante sentou-se então à mesa e, para começar a refeição,
engoliu uma dúzia de frangos assados, com ossos e tudo. Com os olhos
arregalados, João assistiu à mulher trazendo para a mesa
pratos e mais pratos, que o gigante engolia rapidamente, sem nunca ficar
satisfeito.
Quando acabou finalmente sua refeição, o
comilão gritou para a mulher:
— Traga-me o dinheiro!
—
Está
bem! — respondeu ela, saindo da cozinha.
E, logo em seguida, voltava com dois sacos cheios de
moedas de ouro. Depois de ordenar que a
mulher fosse dormir, o gigante colocou os sacos de moedas sobre a mesa e
começou a contá-las, enquanto esperava o sono chegar.
Quando se cansou desse divertimento, guardou as moedas de
novo nos sacos e depois colocou-os no chão, perto de si. Só
que, por precaução, amarrou ao pé da mesa um cão de
guarda, e depois recostou-se na cadeira e pôs-se a dormir.
João, que a tudo assistia de seu esconderijo,
esperou que o gigante estivesse dormindo profundamente e, quando viu que
ele estava roncando como um trovão, saiu de mansinho do forno para
roubar o dinheiro. Entretanto, assim que pôs as mãos sobre os
sacos de moedas, o cão de guarda começou a latir feito louco e o
pobre menino, apavorado, julgou-se completamente perdido.
Acontece que o gigante tinha um sono pesado demais e os
latidos fizeram apenas com que ele se mexesse na cadeira, sem conseguir
acordá-lo.
Mais sossegado, o menino subiu na mesa da cozinha e, depois
de pegar um pedação de carne, jogou-o
ao cão, que abanou o rabo e ficou
em silêncio, deliciando-se com o petisco.
João pôde assim pegar o dinheiro e fugir dali.
Correu sem parar até alcançar o pé de feijão,
descendo habilmente até chegar ao quintal de casa.
Em seguida, chamou pela mãe e, depois de contar-lhe
toda a aventura, entregou-lhe os dois sacos de moedas.
Corri o dinheiro roubado do gigante, João e a
mãe passaram a levar uma vida de rei. Nada mais faltava na casa e eles
não precisavam mais temer a fome e a necessidade.
Mas o tempo foi passando e os sacos de moedas
começaram a ficar vazios. E João pensou, então, em voltar
ao castelo do gigante, para se apoderar de mais riquezas.
Contou sua vontade à mãe e ela,
com medo de que alguma coisa pudesse acontecer-lhe, proibiu-o de ir.
— Já pensou se o gigante agarrar
você? — disse ela. — E a mulher dele? Ela certamente o
reconhecerá e poderá entregá-lo ao marido!
Percebendo que a mãe não ia mesmo permitir,
João fingiu aceitar o que ela dizia. Mas, na primeira chance que teve,
saiu escondido e subiu novamente pelo pé de feijão, desta
vez muito bem disfarçado para que a mulher do gigante não o
reconhecesse.
Chegou assim mais uma vez ao estranho
país e, depois de caminhar até o anoitecer, avistou o castelo do
gigante, na porta do qual encontrou novamente a boa mulher.
— Menino! — disse ela, sem
reconhecer João. — O que você faz aqui? Não sabe que
esse castelo é do meu marido, um gigante muito mau, devorador de carne
humana?
João fingiu-se muito assustado, e pediu à
mulher que o escondesse até o dia seguinte, dizendo que não
conseguiria encontrar o caminho de casa no escuro.
— Ah, não! — respondeu ela.
— De jeito nenhum! Da última vez que fiz isso me arrependi
amargamente! Já dei abrigo a um menino como você e o
mal-agradecido fugiu, levando dois sacos de moedas de ouro do meu marido. Por
causa disso, quase fui devorada no lugar do malandrinho! E o gigante, desde
então, tem estado com um humor terrível, que eu sou obrigada a
suportar!
Mas João sabia ser convincente e pediu tantas vezes
que a boa mulher acabou concordando em escondê-lo. Assim, levou-o para dentro do castelo e deu-lhe de comer e de beber. E,
novamente, mal teve tempo de esconder João, desta vez dentro de um
quartinho de despejo, e o gigante já chegava, com seu andar
tão pesado que fazia o castelo estremecer. Dali a pouco, ele
já estava na cozinha, gritando com voz de trovão:
— Um,
dois e três.
Cheiro de
gente outra vez! Onde está esse abelhudo? Vou comê-lo com ossos e
tudo!
Enquanto dizia isso, o gigante procurava por
todos os cantos da casa.
João, que a tudo
assistia pela fechadura da porta, ficou morrendo de medo de ser encontrado.
Mas a bondosa mulher mais uma vez convenceu o marido de que não havia
ninguém na casa e, enchendo a mesa de comida, conseguiu
distraí-lo.
Novamente o gigante comeu até se fartar e depois
disse à mulher:
— Mulher,
traga-me a galinha!
Ela, como da outra vez, obedeceu às ordens e
saiu da cozinha, para voltar logo depois, trazendo uma galinha viva. O
gigante colocou a galinha sobre a mesa e, assim que a mulher se retirou,
ordenou:
— Bote!
E João viu, espantado, a galinha botar um ovo que
não era nem branco e nem igual aos das galinhas comuns, e sim de ouro,
ouro puro e maciço!
— Bote
outro! — ordenou o gigante.
E a galinha obedeceu. Assim aconteceu
sucessivamente, até que a mesa da cozinha ficou repleta de ovos de ouro,
bonitos e reluzentes.
De repente, o gigante se cansou de mandar a
galinha botar os ovos e, debruçando-se sobre a mesa, caiu, logo em
seguida, num sono profundo.
Quando ouviu o gigante roncando outra vez como
um trovão, João saiu em silêncio de seu esconderijo. E,
como desta vez não havia nem o cão de guarda para atrapalhar, foi
muito fácil agarrar a galinha e fugir correndo do castelo,
até chegar ao pé de feijão.
Logo que entrou em casa, João chamou a mãe e,
depois de lhe contar a sua aventura, entregou-lhe a galinha dos ovos de ouro.
Daquele dia em diante, nada mais lhes faltou,
pois, sempre que precisavam de alguma coisa, bastava ordenar à
galinha que botasse um ovo, e ela obedecia prontamente.
Mesmo sendo agora rico e feliz, João
voltou a ter vontade de subir outra vez ao castelo do gigante. Mas, sempre que
falava nisso, a mãe o repreendia tão severamente, que o menino
acabava adiando a viagem, sem entretanto desistir da idéia.
Passaram-se assim três anos, no final dos quais
João tomou uma decisão: ia subir de novo, custasse o que
custasse, e não contaria nada à mãe.
Assim,
esperou pacientemente que chegasse o verão, quando os dias
são mais longos e, depois de se disfarçar muito bem, subiu
pelo pé de feijão antes que o sol nascesse, para que a mãe
não o visse.
Novamente
chegou ao castelo numa hora em que o gigante não estava, e mais uma vez
não foi reconhecido pela mulher, que voltou a falar-lhe dos perigos que
corria estando ali. Só que, desta vez, foi muito mais difícil convencê-la
a recolher um estranho em seu castelo, pois o gigante, depois do
último roubo, estava com um humor insuportável e cada dia se
tornava mais malvado.
João, porém, sabia que a mulher
era muito bondosa e continuou insistindo até que conseguiu
convencê-la. Foi então acolhido, e de novo lhe foi servida uma
refeição deliciosa.
Mas nesse dia o gigante chegou tão repentinamente
que a mulher só teve tempo de colocar João dentro de um
caldeirão, antes que o marido entrasse na cozinha gritando:
— Mulher! Sinto cheiro de carne humana!
Um, dois e
três,
diga-me de
uma vez:
onde
está o abelhudo?
Vou
comê-lo com ossos e tudo!
E estava tão furioso e desconfiado, que
começou a procurar por todos os cantos, sem nem ouvir a esposa
chamando-o para o jantar.
Procurou, procurou e procurou até que,
finalmente, chegou bem perto do caldeirão onde João estava
escondido. Ao ouvir aqueles passos que faziam o chão tremer e aquela voz
de trovão gritando furiosamente, o pobre menino achou que estava mesmo
perdido. Por sorte, entretanto, o gigante sentiu uma fome repentina e ficou com
preguiça de levantar a tampa do caldeirão. Por isso, desistiu de
procurar e gritou:
— Mulher!
Quero jantar!
Dentro de seu esconderijo, João suspirou
aliviado. E ali ficou bem quietinho, esperando que o comilão
fizesse sua interminável refeição.
Quando, afinal, estava satisfeito, o gigante gritou
para a mulher:
— Traga-me
a harpa de ouro!
E ela, como sempre fazia, obedeceu-lhe prontamente. O
gigante esperou que ela se retirasse para dormir, depois colocou o instrumento
sobre a mesa e ordenou:
— Toque!
No mesmo instante, a harpa de ouro começou
a tocar sozinha uma melodia doce e suave, que deixou João maravilhado e
que embalou os sonhos do malvado gigante. Assim, o menino esperou
até que ele estivesse roncando bem alto, saiu em silêncio do caldeirão
e correu na direção do valioso instrumento.
Acontece que a harpa era encantada e, ao sentir
que mãos estranhas a tocavam, começou a gritar com uma voz
fininha:
— Socorro!
Socooorro!
E o gigante, ou porque não estivesse dormindo
ainda, ou porque gostasse muito da harpa, acabou acordando. Ao ver que estava
sendo roubado, levantou-se da cadeira, gritando, furioso:
— Ah, seu maldito! Desta vez você me
paga! Quando eu o pegar, vou engoli-lo vivo, com ossos e tudo!
Disse isso e veio direto em cima do pobre João,
que, muito assustado, começou a correr até não poder mais.
A harpa de ouro, por sua vez, continuava gritando, com sua vozinha fina:
— Socorro, meu senhor! Estão me roubando
!
E João, ao ouvi-la falar, corria mais ainda, achando
que o gigante o estava alcançando.
De repente, no entanto, João percebeu que
havia já alguns minutos não ouvia mais os urros e o barulho dos
passos de seu perseguidor. Intrigado, virou-se para trás e descobriu
uma coisa que o deixou muito feliz: o gigante, embora
fosse grande e forte, já estava velho e não conseguia correr
muito.
Mesmo assim, ainda havia um
longo caminho
para chegar ao pé de feijão, e por isso o menino agarrou de novo
a harpa, que não parava de gritar por socorro, e continuou a
correr.
Horas depois, alcançou de novo seu
pé de feijão e começou a descer. Quando estava já
no meio da haste da imensa planta, porém, João olhou para cima e
viu que o gigante, por ser muito pesado, descia numa rapidez incrível.
Assim, logo que avistou o quintal de casa, o menino começou a gritar
pela mãe:
— Mamãe, mamãe! Traga-me um machado,
depressa!
Quando João pôs os pés no
chão, a mãe já se preparava para dar os primeiros golpes
na planta. Mas a viúva, ao olhar para cima e ver o tamanho do gigante,
ficou paralisada de medo.
João
estava muito cansado, mas conseguiu reunir todas as suas forças e,
apossando-se do machado, golpeou várias vezes o pé de
feijão. Tendo sido cortada a planta, o gigante despencou lá
do alto, caindo ao chão com um grande estrondo. Era tão pesado
que | seu corpo, ao cair, fez uma cratera enorme, que demorou muitos
anos para fechar.
Livre do perigo que o ameaçava, João
nbraçou a mãe alegremente. E, desde aquele dia, os dois passaram
a viver tranqüilos.
Tempos depois, quando se tornou um homem
forte e bonito, João se casou com uma princesa, com quem viveu feliz por
muitos e muitos anos.
Quanto ao pé de feijão, depois de cortado,
secou completamente e, como não havia mais sementes, nunca mais nasceu
outro igual.
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