CLARICE LISPECTOR - Laços de Família
Alguns traços da vida de Clarice Lispector: aos 24 anos estréia na literatura com o romance Perto do coração selvagem;
exerce a profissão de jornalista (1940); forma-se em Direito e casa-se
com o colega e futuro diplomata, Maury Gurgel Valente (1943); deixa o
Brasil para acompanhar seu marido em missão diplomática (1944); edita o
seu melhor livro de contos, Laços de família (1960); publica o seu melhor romance, A paixão segundo G.H
(1964); separa-se do marido e retorna ao Brasil; sofre as consequências
de incêndio em seu quarto, provocado por um cigarro aceso, e passa três
dias em estado grave; depois, é acometida, por alguns anos, de
depressão; publica uma de suas principais obras, o romance Água viva (1973); escreve a novela A hora da estrela (1977); não mencionei outras obras importantes.
Clarice Lispector publica os seus primeiros contos em uma edição dos Cadernos de Cultura do Ministério da Educação; com a ampliação dessa edição, a escritora forma o livro Laços de família, título de um dos contos, que integram a obra (1960); a Livraria José Olympio Editora reedita-a em 1978 (9ª edição) - outras reedições foram feitas de Laços de família -; outros doze contos compõem esse livro, que é uma das obras-primas do conto brasileiro.
Escolhi, para esta postagem, um pequeno trecho do conto de Clarice Lispector, Laços de família, do livro com o mesmo título, reeditado pela da José Olympio Editora, 1978, 9ª ed., págs. 114-115:
“No meio da fumaça Catarina começou a caminhar de volta, as sobrancelhas franzidas, e nos olhos a malícia dos estrábicos. Sem a companhia da mãe, recuperara o modo firme de caminhar: sozinha era mais fácil. Alguns homens a olhavam, ela era doce, um pouco pesada de corpo. Caminhava serena, moderna nos trajes, os cabelos curtos pintados de acaju. E de tal modo haviam-se disposto as coisas que o amor doloroso pareceu a felicidade – tudo estava tão vivo e tenro ao redor, a rua suja, os velhos bondes, cascas de laranja -, a força fluía e refluía no seu coração com pesada riqueza. Estava muito bonita neste momento, tão elegante; integrada na sua época e na cidade onde nascera como se a tivesse escolhido. Nos olhos vesgos qualquer pessoa adivinharia o gosto que essa mulher tinha pelas coisas do mundo. Expiava as pessoas com insitência, procurando fixar naquelas figuras mutáveis seu prazer ainda úmido de lágrimas pela mãe. Desviou-se dos carros, conseguiu aproximar-se do ônibus burlando a fila, espiando com ironia; nada impediria que essa pequena mulher que andava rolando os quadris subisse mais um degrau misterioso nos seus dias.”
Clarice Lispector publica os seus primeiros contos em uma edição dos Cadernos de Cultura do Ministério da Educação; com a ampliação dessa edição, a escritora forma o livro Laços de família, título de um dos contos, que integram a obra (1960); a Livraria José Olympio Editora reedita-a em 1978 (9ª edição) - outras reedições foram feitas de Laços de família -; outros doze contos compõem esse livro, que é uma das obras-primas do conto brasileiro.
Escolhi, para esta postagem, um pequeno trecho do conto de Clarice Lispector, Laços de família, do livro com o mesmo título, reeditado pela da José Olympio Editora, 1978, 9ª ed., págs. 114-115:
“No meio da fumaça Catarina começou a caminhar de volta, as sobrancelhas franzidas, e nos olhos a malícia dos estrábicos. Sem a companhia da mãe, recuperara o modo firme de caminhar: sozinha era mais fácil. Alguns homens a olhavam, ela era doce, um pouco pesada de corpo. Caminhava serena, moderna nos trajes, os cabelos curtos pintados de acaju. E de tal modo haviam-se disposto as coisas que o amor doloroso pareceu a felicidade – tudo estava tão vivo e tenro ao redor, a rua suja, os velhos bondes, cascas de laranja -, a força fluía e refluía no seu coração com pesada riqueza. Estava muito bonita neste momento, tão elegante; integrada na sua época e na cidade onde nascera como se a tivesse escolhido. Nos olhos vesgos qualquer pessoa adivinharia o gosto que essa mulher tinha pelas coisas do mundo. Expiava as pessoas com insitência, procurando fixar naquelas figuras mutáveis seu prazer ainda úmido de lágrimas pela mãe. Desviou-se dos carros, conseguiu aproximar-se do ônibus burlando a fila, espiando com ironia; nada impediria que essa pequena mulher que andava rolando os quadris subisse mais um degrau misterioso nos seus dias.”
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