A crônica é lírica quando a saudade, a emoção e a nostalgia aparecem
no texto buscando interpretar de forma poética os sentimentos.
Exemplo:
Apelo
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros
dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido
na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda
no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito
de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela,
não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a
meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a
Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para
casa, Senhora, por favor.
(Dalton Trevisan)
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