sábado, 28 de novembro de 2015

Reportagem

Festival Juventude da Maré leva textos da comunidade ao Parque das Ruínas

Com programação para todas as idades, mostra tem atividades gratuitas

Jovens trabalham em cena as questões com as quais lidam diariamente (Foto: Ubiratan Carvalho) 
Jovens trabalham em cena as questões com as quais lidam diariamente (Foto: Ubiratan Carvalho)
Espaço teatral alternativo na cidade do Rio de Janeiro, o Parque das Ruínas vai ser palco neste domingo, 29 de novembro, do Festival Juventude da Maré, organizado pelo Projeto Teatro do Oprimido na Maré como encerramento de dois anos de atividade. Formado por grupos teatrais de jovens da comunidade da Zona Norte do Rio, o projeto já circulou por dentro e fora da Maré com diversos espetáculos e foi responsável por três edições do #OcupaJovem.
– O Teatro do Oprimido é feito pelo oprimido, com o oprimido e para o oprimido. É um teatro onde a gente finge que todas as pessoas são teatro, porque a gente está atuando na nossa vida o tempo todo. É ter consciência que o atuar é uma questão essencial do humano e que, se apropriando desse instrumento e democratizando essa produção cultural, você interage com criadores, originando espetáculos que estabelecem relações entre diferentes classes da sociedade, visando transformá-la – explica Geo Britto, sociólogo idealizador do Projeto Teatro do Oprimido na Maré e organizador geral do festival.
O Teatro do Oprimido é feito pelo oprimido, com o oprimido e para o oprimido"
Geo Britto
Ocupando o espaço das 8h às 18h, a programação é gratuita e voltada para todas as idades, englobando espetáculos, contação de histórias, uma exposição sobre os dois anos de trajetória do grupo, performance e debates com o público. Com argumento, texto e músicas concebidos pelos próprios jovens, as montagens discutem temas com os quais eles lidam diariamente em suas vidas, como o preconceito que existe no mercado de trabalho em relação ao morador de favela, a segregação espacial, o machismo, a questão de gênero e o desencorajamento de sonhos.
– Foi um resumo de tudo que fizemos nesses dois anos, chamando parceiros do projeto, pessoas que já trabalhavam na Maré – recorda Geo.
Participam os grupos Maré, Maremoto e Marear, com os espetáculos “Em uma Família”, “Marcha Borboleta” e “A Resposta é Só Não?”, respectivamente. Em cena, um pai que não aceita que a filha jogue futebol por ser coisa de menino, dois jovens namorados que precisam abrir mão do sonho de atuar porque os pais não os apoiam e um trabalhador que se vê na rua por ser morador da Maré. O festival apresenta ainda uma cena do monólogo “Mataram Meu Filho”, de Gabriel Horsth, que traz o drama das mães da comunidade que tiveram seus filhos assassinados por policiais.
Projeto completa dois anos na comunidade (Foto: Naldinho Lourena) 
Projeto completa dois anos na comunidade da Maré
(Foto: Naldinho Lourena)
Uma das principais características do grupo é a participação do público, que tem o papel de fortalecer o diálogo entre o oprimido e o opressor. A figura do coringa – nome dado por Augusto Boal ao especialista na metodologia do Teatro do Oprimido – mestre de cerimônias do grupo, é importante nesse ponto ao mediar o diálogo entre palco e plateia, estimulando a participação e orientando a análise das intervenções feitas pelos espectadores.
– O coringa é aquela figura que a gente pode dizer que “joga nas 11 posições”. Ele é diretor, faz o cenário, o figurino, tem noção de música, e é aquele faz o contato com a plateia. Porque todas as peças que vão ser apresentadas no Teatro do Oprimido tem a filosofia que as histórias surjam das próprias pessoas, dos próprios oprimidos – aponta o sociólogo.
O objetivo do projeto é que os jovens formem seus próprios grupos e se tornem novos coringas. É a pratica de multiplicação do Teatro do Oprimido da Maré.
– O que queremos é continuar com esse projeto de alguma forma.  A ideia é que a partir desses grupos se formem novos coringas, e que eles próprios possam criar mais grupos, dentro e fora da Maré, criando sua própria identidade. É uma lógica de autonomia para eles – torce Geo Britto.
A programação completa você confere no site do Teatro do Oprimido da Maré.


Fonte: http://redeglobo.globo.com/globoteatro/reportagens/noticia/2015/11/festival-juventude-da-mare-leva-textos-da-comunidade-ao-parque-das-ruinas.html

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